No apêndice do curso sobre Leibniz do verão de 1928, Heidegger sustenta a necessidade de uma transformação metafísica da ontologia fundamental, a qual inicialmente se converteria em uma investigação provisória denominada metontologia (Metontologie), culminando posteriormente na metafísica do Dasein, como unidade de ontologia fundamental e metontologia. Na medida em que a ontologia fundamental não exaure a noção de metafísica, torna-se necessária uma nova problemática, que possa dar conta do existir humano como vinculado ao ente. Uma vez que o Dasein só pode existir de maneira distinta dos demais entes e ter uma compreensão do ser na medida em que os entes já estão aí, coloca-se em evidência o problema do fundamento ôntico da ontologia fundamental. Observa-se, dessa forma, um alargamento da analítica existencial e uma ampliação da interpretação do Dasein iniciada em Ser e tempo, propiciando um conceito de homem que não leva em conta apenas a estrutura ontológica, mas o seu necessário vínculo ao ente no todo. Nesta perspectiva, a questão que orienta o presente trabalho está voltada à necessidade de se compreender que a transformação no pensamento heideggeriano nos escritos imediatamente posteriores a Ser e tempo não constituem um abandono da ontologia fundamental, mas uma consequência da sua radicalização. Assim, a partir da conversão da ontologia fundamental em uma metontologia, que culminaria posteriormente na metafísica do Dasein, é possível lançar bases para uma investigação mais primordial, não apenas da existência ôntica que o Dasein compartilha com os demais entes, mas da própria compreensão de mundo.