Poder sem politica: limites de uma concepção de autonomia baseada em Michel Foucault.
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Yara Adario Frateschi
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UNICAMP
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Alguns autores têm buscado em Michel Foucault inspiração para ampliar o escopo da Teoria Crítica e corrigir problemas detectados em Habermas e nos teóricos críticos contemporâneos pós-habermasianos, como Seyla Benhabib e Axel Honneth. Este é o caso, por exemplo, de Amy Allen, que recorre a Foucault para sanar o problema que ela considera central de Habermas e dos teóricos críticos contemporâneos: o compromisso com uma leitura da história vinculada com uma concepção de progresso. Tratar-se-ia de uma leitura fechada da história de acordo com a qual a nossa forma de vida representaria o ponto final desse desenvolvimento progressivo, o que estreitaria o horizonte político ao condicioná-lo à realização dos ideais e princípios normativos da modernidade. Outro problema, relacionado a este, seria a visão da emancipação fora das relações de poder. De acordo com Allen, Foucault oferece uma saída para estes problemas uma vez que proporciona uma concepção de emancipação negativista que não se apoia em uma leitura progressiva da história (que faria com que a Teoria Crítica indevidamente compactuasse com o imperialismo) e que tampouco contaria com a utopia de se libertar das relações de poder. Pretendo levar a sério essa crítica que recai também sobre Seyla Benhabib. Em um primeiro momento, eu pretendo reconstruir cuidadosamente essa crítica para, em seguida, questioná-la. A partir de uma análise detida e cuidadosa da noção de utopia em Seyla Benhabib, pretendo defender que não se trata se uma visão substantiva de utopia vinculada à superioridade do ponto de vista da modernidade e que compactuaria com qualquer forma de imperialismo. Procurarei mostrar ainda que Allen se equivoca na crítica à Benhabib porque não presta a devida atenção às Democratic Iterations, que podem justamente levar à transformação de ideias estabelecidas, a ressignificações coletivas e à contestação de formas consolidadas de poder. Em um segundo momento, eu pretendo questionar a proposta de Amy Allen de recorrer a Foucault para sanar os problemas detectados na Teoria Crítica habermasiana e pós-habermasiana. Em um aspecto específico o projeto parece problemático, pois, embora enfatize com razão a necessidade de se considerar seriamente as relações de poder, termina por descuidar da política.
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Teorias da Justiça
- 21.10 | Sexta-Feira | sala 26| 09h50
- sala 26
- 21/10/2016