Compreensão e Método
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Gil Moraes Monti
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UFRGS
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Em uma de suas entrevistas mais famosas, cedida a Günter Gaus em 1964, Hannah Arendt é questionada sobre as polêmicas que envolviam algumas de suas obras. Em resposta, Arendt afirma que não pensava nisso enquanto escrevia e que sua única preocupação era compreender (to understand). A partir desta afirmação, a presente comunicação busca clarificar o sentido arendtiano de compreensão e mostrá-lo como um método sui generis de argumentação. A dificuldade desta proposta surge do fato dos escritos de Arendt não serem lineares ou sistemáticos, nem se apresentam como grandes tratados. Para Arendt a narratividade revela o sentido sem correr o risco de defini-lo. Para se entender como se forma este tipo de compreensão e consequentemente uma espécie de método em sua escrita, é importante considerar o pensamento enquanto processo. Este processo se estabelece a partir de uma distinção entre compreensão preliminar e compreensão verdadeira e de como estas duas atividades relacionam ser humano e mundo. A compreensão preliminar está ligada a um tipo de conhecimento que acessamos de forma não reflexiva, está ligada a vida cotidiana, a partir das coisas com que já sabemos lidar, cujo sentido é dado. A busca de sentido é específica do pensamento, a reflexão sobre as experiências é algo que diz respeito à compreensão verdadeira. A compreensão verdadeira pode ser entendida como uma compreensão própria ou autêntica, é um tipo de compreensão que não carrega em si valor de verdade transcendente ao próprio processo narrativo. A compreensão preliminar é atrelada ao conhecimento, mas se diferencia deste último, uma vez que o conhecimento não poderia ocorrer sem que houvesse qualquer tipo de compreensão preliminar. O que Arendt vai nos dizer é que a compreensão verdadeira precede e sucede o conhecimento na medida que confere significado a ele. A compreensão neste modelo arendtian
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Filosofia Política Contemporânea
- 21.10 | Sexta-Feira | sala 27| 09h20
- sala 27
- 21/10/2016