Inteligência, linguagem e filosofia: aspectos da condição humana em Bergson
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Fábio Coelho da Silva
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UFSCAR
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Em sua obra "A evolução criadora", Bergson estabelece uma articulação entre teoria do conhecimento e estudo da vida. Mais especificamente, ele se propõe a examinar como os quadros fixos do pensamento são estruturados ao longo do processo evolutivo. Essa espécie de crítica da crítica demonstra que a inteligência não é exclusivamente uma faculdade de especulação, mas sim de ação. A manobra primordial que define sua competência é a capacidade de fabricar, isto é, de transformar a natureza para atender as necessidades vitais da espécie. Essas considerações estão na base da perspectiva bergsoniana sobre a condição humana, cujos traços decisivos vinculam-se à filiação entre "Homo faber" e "Homo sapiens". Essa caracterização apresenta dois aspectos fundamentais: primeiramente, a fabricação ou a atividade técnica é inerente ao desenvolvimento natural do homem: em segundo lugar, o "Homo sapiens" nasce da sofisticação do processo de fabricação, cujo advento envolve a instauração de um campo de reflexões sobre as atividades humanas. Posteriormente, ao recuperar essa descrição na introdução de "O Pensamento e o movente", o filósofo francês apresenta uma terceira modalidade, a saber: o "Homo loquax": mas, de maneira bastante breve, o desqualifica como antipático, já que a estruturação de seu pensamento seria simplesmente uma reflexão sobre o que fala, obedecendo assim aos critérios depositados na linguagem e, por conseguinte, colocando-se distante das coisas. Essa descrição da inserção do homem sobre o mundo traz à tona uma questão importante: entendida como um produto da vida, a inteligência humana não consegue pensar a própria vida em sua mobilidade e amadurecimento, uma vez que a exigência de agir sobre a matéria bruta tem como alvo suprir demandas e satisfazer interesses da espécie. Bergson define que a tarefa da filosofia é subverter essa distância entre realidade e conhecimento interessado, evidenciado assim a dimensão espiritual do homem na medida em que procura fundi-la ao todo. Tendo em vista esse eixo temático, a proposta desta comunicação é demonstrar que, para Bergson, a reestruturação da metafísica não implica em renunciar a influência da técnica, da linguagem e dos quadros fixos do pensamento, mas promover uma espécie de torção violenta da inteligência sobre si mesma para inverter sua marcha habitual: ou melhor, será a reflexão sobre as origens e a destinação da inteligência e da linguagem que abrirá o caminho para ultrapassar a condição humana e, ao mesmo tempo, para estabelecer o conhecimento da vida como inovação e devir radical.
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Filosofia Francesa Contemporânea
- 21.10 | Sexta-Feira | sala 43| 10h20
- sala 43
- 21/10/2016